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BLOGS E COLUNAS

Palavras que movem montanhas

21/11/2024 09h28

Em dias em que a previsão promete um céu choroso e estou de folga do trabalho, paro diante da janela da minha casa. Meus pensamentos vagam enquanto meus olhos se fixam no solitário Morro do Formigão, logo adiante. 


O clima não colabora para minha atividade física preferida: montar na bicicleta e explorar a região, subindo e descendo os morros e montanhas dessa nossa bela e abençoada terra.


É nesses momentos de introspecção que aquela voz — aquela que todos carregamos dentro da cabeça — começa a falar comigo incessantemente. E, assim, a aparente ociosidade se transforma em uma vontade irresistível de traduzir em palavras esse diálogo interno.

Confesso, no entanto, que às vezes me pergunto se vale a pena o esforço imenso de organizar as ideias e decifrar as vozes complexas que ecoam dentro de mim. Acredite, caro leitor: escrever uma pequena crônica consome mais energia e tempo do que uma pedalada de 100 quilômetros. 


Escrever, aliás, é uma atividade que parece nunca ter fim. Quanto mais escrevo, mais sinto a necessidade de continuar. Em muitos momentos, sinto-me como Sísifo, o personagem da mitologia grega condenado a empurrar uma enorme pedra até o topo de uma montanha, apenas para vê-la rolar de volta e ter que começar tudo outra vez.

Quando estou prestes a acreditar que escrever é uma espécie de maldição repetitiva — porque, assim que termino um texto, surge em mim uma vontade inexplicável de escrever outro — lembro-me de um trecho que li certa vez da escritora Virginia Woolf. Suas palavras poderosas iluminaram minha perspectiva e me fizeram ver a escrita como uma dádiva, um presente concedido por Deus:

"Você pode escrever para si mesma ou para um pequeno círculo de amigos íntimos; pode escrever porque sente que é um alívio da dor, porque sente que é uma necessidade, porque é um gesto de amor. Mas a verdade é que as palavras que você coloca no papel têm o poder de moldar o mundo, de mudar vidas, de acender chamas em corações que nunca conheceram luz. Escreva, mesmo quando duvidar de si mesma, mesmo quando o medo sussurrar que suas palavras não importam. Porque há alguém lá fora, alguém que precisa exatamente do que você tem a dizer..."

Essas palavras de Virginia Woolf, que faleceu há mais de 80 anos, em 28 de março de 1941 (coincidência ou não, 28 de março é o dia do meu aniversário), continuam alimentando em mim o desejo de transformar em histórias as inúmeras palavras que habitam meu interior.


Também me fazem lembrar das mais de 200 crônicas e contos que já escrevi e das centenas de comentários que recebi de leitores. Muitos disseram ter chorado, sorrido, sido tocados no coração, relembrado a infância, sentido-se inspirados ou, simplesmente, encontrado um motivo para tornar o dia mais leve e alegre após a leitura de uma das minhas histórias.

Como sempre, termino esse processo de escrita mentalmente exausto, mas, ao mesmo tempo, renovado. É difícil explicar com precisão. É como se a fonte de onde extraio minhas vivências ou dou vida às histórias que fervilham em minha mente e no meu coração fosse inesgotável. E essa sensação é extraordinária. Saber que, em algum lugar, alguém está precisando exatamente das palavras que tenho para oferecer dá sentido a tudo isso.


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MACIEL BROGNOLI
Crônicas e contos
Maciel Brognoli é guarda municipal de Tubarão, graduado em Administração Pública, especialista em Segurança Pública e Gestão de Trânsito e escritor. Ocupa a cadeira n° 27 da Academia Tubaronense de Letras (Acatul) e escreveu quatro livros.
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