Um homem de vestes surradas e olhar sofrido bateu à minha porta pedindo doações. "Do que você precisa?", perguntei. "Qualquer coisa", ele respondeu. Ele me disse que tudo o que arrecadasse no bairro seria destinado a uma ONG que ajuda crianças carentes aqui em Tubarão.
Quando pedi o endereço da ONG, ele me deu uma resposta vaga: "Fica no centro da cidade". Insisti no nome e no endereço, e ele então me mostrou um crachá com o nome da instituição (que prefiro não citar) e corrigiu-se: "Perdoe-me, não sou daqui, sou do Sul (?) e por isso me confundi, a ONG não fica em Tubarão, mas em Capivari de Baixo."
Sinceramente, achei tudo muito estranho e suspeito. Não posso afirmar categoricamente, mas tive a impressão de que essa ONG nem existe. Parei de fazer perguntas porque não queria semear mais dúvidas em minha mente.
Não desejava endurecer meu coração, que já estava inclinado a fazer a doação, mesmo que, no fundo, eu suspeitasse de uma farsa. Pedi para ele esperar um pouco, entrei em casa, peguei 1 kg de alimento no armário da cozinha e entreguei ao homem. Ele agradeceu e disse que o meu pouco era muito para as crianças necessitadas.
Não sei se essa ONG realmente existe e nem me dei ao trabalho de fazer uma pesquisa mais aprofundada. Se for verdade, ótimo; se for mentira, que aquele homem lide com as consequências de seus atos, pois o universo tem uma forma sutil, mas sempre ajusta as contas com as pessoas de má-fé.
Quanto a mim, não me preocupo em possivelmente ter sido enganado, pois minha intenção foi pura e é isso o que importa. A doação que fiz a mando do meu coração ultrapassa a questão da verdade ou da mentira, pois o valor de um gesto está na intenção com que é realizado. E mesmo que o alimento não chegue ao destino prometido, ele ainda servirá para alimentar alguém que precisa.
E, no fundo, não importa quem seja, porque a necessidade de quem tem fome é mais urgente do que as minhas dúvidas e suspeitas. Comida não se nega, nem mesmo a quem não diz a verdade, porque o ato de doar faz bem a quem doa e nos conecta com a essência do humano: a compaixão.
Receba outras colunas pelo WhatsApp. Clique aqui e entre no grupo do Sul Agora.