Quando eu era criança, eu e meu pai éramos bem próximos. Depois do almoço, ele deitava no assoalho da sala para descansar, e eu subia em sua barriga para brincar com suas orelhas e nariz. Ele me levava na garupa da bicicleta; íamos pescar juntos. Na hora de dormir, eu o imitava, pendurando minha calça atrás da porta do quarto, ao lado da dele.
Essa proximidade durou até eu ter uns sete anos, quando a gente se mudou de casa e de cidade. Não sei bem por quê, mas naquela mudança algo se perdeu no caminho. Passamos a ser quase dois estranhos na mesma casa. Só conversávamos quando era muito necessário. E isso durou por muitos anos.
Certo dia, meu pai adoeceu. Precisou de uma grande cirurgia e ficou muito fraco. Uma tarde, ele estava deitado, muito debilitado — não conseguia comer nada sólido. Comprei algumas torradas, um pote de geleia de uva, fiz café e levei para ele na cama. Naquela tarde, a gente conversou. Ele me olhou igualzinho quando eu era criança.
Meu pai morreu poucos dias depois, mas aquele instante eu guardo com carinho na memória e no coração. Foi quando voltamos a ser pai e filho.