Um homem simples do interior, trabalhador rural sem estudo, mas preocupado com o futuro dos netos pequenos e das demais crianças de sua comunidade, resolveu andar a pé mais de dez quilômetros até a prefeitura para contar ao prefeito que a escola local estava com o teto caindo e que, na mínima chuva, a água invadia a sala de aula.
Chegou ao Paço Municipal e sentou-se na cadeira de espera. Pessoas entravam e saíam com roupas finas, cheirando a perfumes caros. Ele, num canto, esquecido: calça esfarrapada, chinelo de dedos, sola dos pés cascuda e rachada.
Depois de um tempo, a moça da recepção reparou nele.
— O que o senhor deseja?
— Vim falar com o prefeito.
— Qual o assunto?
— O teto da escola da minha comunidade está caindo e…
Ela interrompeu:
— Isso é assunto de outro departamento.
Ele pegou o endereço e seguiu. Na outra recepção, tirou o chapéu e tentou outra vez:
— Sabe o que acontece, moça, o teto da escola dos meus netos está caindo e eu queria…
Mais uma vez não foi ouvido. A moça cortou a fala dizendo que aquilo precisava ser registrado em um protocolo, feito no site da prefeitura. Ali, pessoalmente, nada se resolvia. O velho recolocou o chapéu e saiu sem entender o que era esse “tal de protocolo”.
No centro da cidade, parou num boteco, pediu um refrigerante e contou ao atendente por que estava ali. O homem fingiu que não escutava e foi atender outros clientes. Pessoas ao lado perceberam que o velho queria conversa, disfarçaram e se afastaram para outro canto.
Ele pagou a conta e foi embora. Caminhou mais dez quilômetros de volta para casa, sem conseguir ser ouvido sobre o problema do teto da escola.
Já era noite quando chegou ao portão de sua casa. O cachorro o recebeu abanando o rabo. O velho fez um carinho na cabeça do bichinho e contou a ele sua preocupação com o teto da escola e o futuro incerto das crianças. E, finalmente, pela primeira vez no dia, alguém escutou sua história até o fim.
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