Fiz umas compras no supermercado. Passei no caixa, coloquei as sacolas no carrinho e segui até o estacionamento, onde estava meu carro. Ao abrir o porta-malas, apareceu um rapaz pedindo moedinhas para ajudar a comprar um lanche. Quase nunca tenho moedas no bolso. Por coincidência, dessa vez eu tinha. Nem pensei: entreguei quatro de cinquenta centavos. Ele agradeceu e saiu assoviando, tilintando as moedas na palma da mão.
Eu me preparava para entrar no carro quando surgiu outro homem. Disse que me conhecia de algum lugar e que me viu dar moedas para um “vagabundo”. Depois perguntou se eu não tinha vergonha de incentivar a mendicância na cidade.
Respirei fundo. Se tem coisa que me tira a paciência é gente estranha querendo ditar o que eu devo ou não fazer. Preservo minha liberdade como preservo a minha vida. Respondi que não tinha pedido a opinião dele. Mas, já que queria saber, disse que eu estava ciente de que o pedinte havia mentido para mim. E ele sabia que eu sabia, porque deixei isso claro no meu olhar. Ainda assim, dei as moedas. Aqueles centavos não apenas o ajudaram, mas também preservaram meu coração de endurecer diante de quem pede ajuda.
O que aquele homem ou qualquer outra pessoa pense do meu gesto não define o que ele significa para mim. Isso é prova de que continuo livre para agir de acordo com o meu coração e a minha consciência. E, no meu coração e na minha consciência, mando eu.