Um casal de Santa Catarina gravou um vídeo com “quatro coisas que você precisa saber” para quem pretende vir morar por aqui, vindo de outras regiões do Brasil. O recado deles é direto: se não se encaixarem nessas orientações, é melhor nem vir.
O casal, tanto ele quanto ela, são descendentes de imigrantes alemães. E, por algum motivo, se deram ao trabalho de elaborar uma espécie de manual de conduta para forasteiros. Assim como eles, também sou descendente de imigrantes. No meu caso, italianos. Como a maioria de nós aqui no Sul, sou bisneto de pessoas que chegaram ao Brasil no final do século XIX. Se fôssemos árvores, seríamos sementes de espécies exóticas, plantadas em solo estranho.
A verdade é que a maioria de nós, catarinenses, não somos originários deste território por nascimento familiar. E só esse fato já deveria bastar para que olhássemos com mais respeito para os que vêm de fora, tanto de outras regiões do país quanto de outros cantos do mundo. Devíamos recebê-los com empatia e dignidade, como gostaríamos que nossos antepassados tivessem sido acolhidos ao chegar nesta terra.
Meus bisavós, assim como os de muitos que talvez estejam lendo este texto, vieram da Itália, da Alemanha, de Portugal, de várias regiões da África. Uns chegaram aqui movidos pela promessa de uma vida melhor. Outros, trazidos à força. O fato é que pouquíssimos de nós, aqui no Sul, têm origem indígena. Somos, em grande parte, frutos da imigração.
Analisando a trajetória da nossa gente, chego à conclusão de que é muito estranho que esse casal, descendente de pessoas que um dia sofreram preconceito por causa de seus hábitos, cultura e língua, agora ouse repetir os mesmos erros daqueles que foram intolerantes com seus antepassados. Um ciclo triste que se repete quando a memória falha.
O mundo é uma só comunidade. As fronteiras, no fundo, são invenções humanas, criadas para delimitar um espaço que deveria ser de livre acesso a todos.
O Brasil, especialmente a Região Sul, é um país formado por descendentes de estrangeiros. E esse casal catarinense, ao impor regras a brasileiros de outras regiões, demonstra apenas uma coisa: desrespeito com seu povo e um profundo desconhecimento da própria história e das lutas vividas por seus antepassados.
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