Quando a tristeza e o desânimo me empurram para o silêncio espiritual e físico na penumbra solitária do meu quarto, volto meus olhos para o estreito fio de luz brilhante que atravessa a fresta da porta.
A falta de beleza no mundo é só uma sensação temporária que habita meu ser. Sei que lá fora, na claridade, existem flores, beija-flores e tantos outros encantos esperando para serem apreciados e tornarem meu dia mais feliz.
Em dias de chuva e sol, instintivamente ergo meus olhos ao alto na expectativa de vislumbrar a promessa de Deus aos homens, materializada em sete cores, adornando o céu da cidade em forma de arco.
Quando percebo que as repetições da vida fazem minha cabeça baixar e meu olhar perder a admiração pelo extraordinário bater de asas de uma borboleta, volto-me para dentro de mim.
Busco no meu interior as lembranças da criança sorridente e de olhos brilhantes que fui um dia, especialmente aquela memória marcante de um final de tarde distante, quando fiquei fascinado pelas cores de um arco-íris suspenso no ar.
Ontem, ao entardecer, parei no deck dos casarios coloridos para contemplar a vida que pulsa naquela região. Em um salgueiro à margem do rio, vive um sabiá de peito vermelho que presenteia todos os que por ali passam com sua música encantadora.
Capivaras pastam ao lado de pequenas flores amarelas que brotam ao acaso, cultivadas pelas mãos invisíveis da Mãe Natureza.
Tainhotas saltitantes revelam que há muita vida oculta nas águas escuras do rio Tubarão — um rio que, aliás, não se importa com os obstáculos que lhe são impostos: ele desvia e segue seu rumo, até deixar de ser pequeno e escuro para se transformar em um imenso mar azul.
Aqui fora não há portas; a vida pulsa em todas as partes e sempre haverá no horizonte um belo e caloroso pôr do sol, incansável em iluminar meus (nossos) dias.
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