O filme Ainda Estou Aqui é a sensação do cinema brasileiro, tendo levado mais de dois milhões de pessoas aos cinemas, desde que entrou em exibição, há menos de um mês. A história da prisão e assassinato do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar, e a repercussão disso em sua família, comove até o espectador mais frio. O filme já ganhou diversos prêmios, entre eles, o de Melhor Roteiro no Festival de Veneza. Quem sabe possa até ganhar um Oscar, se não for sonhar demais.
O roteiro é realmente tão bom que, no dia em que eu fui assistir, presenciei uma cena inédita para mim: ao final da exibição, o público, de tão emocionado, aplaudiu o filme. Entendi que as palmas eram para o conjunto da obra: a atuação dos atores, especialmente de Fernanda Torres, que interpreta a viúva de Rubens Paiva, Eunice, e para a história da família toda, especialmente de como a mãe soube enfrentar os terrores impostos à família pela ditadura militar, que vigorou de 1964 a 1985, 21 anos!
Rubens Paiva era um deputado federal paulista, eleito em 1962 pelo PTB e cassado pelo golpe militar de 1964. Foi um entre as centenas de mortos ou desaparecidos pela ditadura, conforme comprovado em 2014 pela Comissão Nacional da Verdade, instituída pelo governo brasileiro para investigar as graves violações de direitos humanos ocorridas durante o regime militar. Foi preso e assassinado não porque fosse um bandido ou um criminoso, mas somente porque era opositor à ditadura militar de 64.
Em 2014, Rubens Paiva foi homenageado com um busto na Câmara dos Deputados, para onde havia sido eleito democraticamente. Na cerimônia de inauguração, diante dos familiares, um então deputado passou pelo local, vaiou e deu uma cusparada. Sim, Bolsonaro, gritando: “Rubens Paiva teve o que mereceu, comunista desgraçado, vagabundo”. O alvo do cuspe foi um incansável lutador pela liberdade e pela democracia, e isso lhe custou a vida. Já o ofensor é apenas um golpista, que logo será preso.
Receba outras colunas direto em seu WhatsApp. Clique aqui.