Jair Bolsonaro, enfim, foi condenado. O conjunto da obra é tão repugnante que tem gente que não gosta de Bolsonaro desde que ele foi expulso do Exército, em 1986, depois de planejar explodir bombas em diversos quartéis do Rio de Janeiro. Foi condenado na época por “mentir ao longo de todo o processo” e revelar “comportamento aético e incompatível com o pundonor militar e o decoro da classe”, segundo o tribunal militar que o julgou.
Tem quem não goste dele desde 1999, por ter dito, então, numa entrevista à TV, que se fosse eleito presidente daria um golpe e implantaria uma ditadura militar. Para isso, deveríamos ter uma guerra civil e “matando uns 30 mil, começando com o FHC”, disse, referindo-se ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. Há quem não goste dele desde 2003, quando disse à deputada Maria do Rosário que não a estupraria “porque ela não merece”.
Ele repetiu a ofensa à deputada em 2014 e ganhou muitos seguidores e perseguidores ao aparecer em programas popularescos, como CQC, Superpop e Pânico, onde aproveitava a audiência para destilar homofobia, misoginia e muitas declarações ultrajantes. Num deles, respondeu a uma pergunta da cantora Preta Gil dizendo que os filhos dele “não corriam risco de namorar negras ou virar gays porque foram muito bem educados”.
Em quase 30 anos como deputado, teve apenas dois projetos aprovados, posteriormente vetados pela presidência. Nos sete mandatos que teve na Câmara dos Deputados, apresentou um único projeto de lei para a área da Educação, em 1991, e dois para a área da Saúde. Mas apresentou vários projetos inúteis, como autorizar o porte de arma de fogo aos deputados e padronizar manifestações de aplausos após a execução do Hino Nacional.
Do período em que ele esteve na presidência nem preciso falar, pois ainda está viva na memória de todos a fila do osso, os 33 milhões de famintos no país do “bolsocaro”, da gasolina subindo toda semana. Das fake news espalhadas pelo gabinete do ódio, do desmatamento na Amazônia para passar a boiada. Do liberou geral nas armas. Do presidente do Brasil comendo pizza na calçada, excluído de reuniões importantes com líderes mundiais.
Uma época de declarações absurdas no cercadinho, de rachadinhas, mansões compradas com dinheiro vivo. De cheques depositados na conta da mulher, sem explicação. Do sumiço do Queiroz. Da interferência na Polícia Federal. Época em que o presidente deixava de trabalhar para passear de moto e andar de jet ski. Que promovia lives e protestos para desacreditar as urnas e atacar as instituições, especialmente o STF e Alexandre de Moraes.
Fez a pandemia ser pior para nós, que temos 3% da população mundial, mas somamos 11% das mortes por covid no planeta. Morreram mais de 700 mil brasileiros e ele não visitou um único hospital. Retardou a compra de vacinas, fez pouco caso da doença e imitou mais de uma vez pessoas sentindo falta de ar, num total desprezo à vida. Promovia a cloroquina, o negacionismo, e chegou a dizer que quem se vacinasse desenvolveria Aids.
Bolsonaro agora está condenado. Pode ser que ele fuja, pode ser que Trump imponha mais sanções ao Brasil. Pode ser que os deputados e senadores aprovem uma anistia, e até que Tarcísio vença as eleições no ano que vem e dê um jeito de libertar Bolsonaro, como já prometeu. Mas o que importa, neste momento, é que a Justiça prevaleceu sobre a impunidade, e o Brasil é hoje um exemplo de democracia para o mundo.
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