“Como será amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer? O meu destino será como Deus quiser. Como será?”, já se perguntava a cantora Simone, num samba que ficou famoso na sua voz nos anos 80. Existe pergunta mais atual? A resposta sobre o que podemos esperar de um futuro próximo é o que todos queremos saber, mas alguns já se adiantaram para responder que nada será como antes, viveremos um novo normal - a expressão da moda.
É possível que seja uma vida diferente da que estávamos acostumados, óbvio. Como também é possível que daqui a um tempo, todos vacinados, poucos continuarão se importando com a prevenção. Como já aconteceu com a gripe H1N1, aliás. Mas alguns duros aprendizados que estamos tendo nessa pandemia deveríamos levar por mais tempo, para que não continuemos a aceitar como normal certas situações que não deveriam mais existir.
Um exemplo do normal que não poderia mais ser é o que acontece no Estado do Amazonas. Como pode, no Estado inteiro, com 62 municípios, só ter UTI na capital, Manaus? Municípios amazonenses com mais de 100 mil habitantes, no interior do Estado, uma população equivalente à de Tubarão, sem uma UTI em seus hospitais, tendo que transportar seus doentes por meio de uma pequena aeronave. Como é possível que isso aconteça no século 21?
O que chama a atenção nesse caso do Amazonas, e que se repete Brasilzão afora, é que em todos os municípios que não têm hospitais, muito menos UTIs disponíveis para a população agonizando, a justificativa para essa aberração é que não há verba disponível para a manutenção desses leitos. Mas em todos os municípios brasileiros existe uma Câmara de Vereadores onerosa, com seus vereadores, assessores e polpudas verbas de gabinete.
Não parece claro que as prioridades estão invertidas? Que os milhões que são direcionados aos vereadores todos os meses deveriam ser direcionados para salvar vidas – com ou sem pandemia? Se é possível construir rapidamente hospitais de campanha, a preços milionários (como queriam aqui no Estado), por que aceitaremos, no novo normal, que a Saúde continue relegada a um segundo plano, com a velha desculpa de que sempre há falta de verbas?