Nas duas últimas colunas, fiz um paralelo sobre a riqueza acumulada por um único empresário de Tubarão, que fatura o equivalente a uma bolada da Mega-Sena todo mês, com as oito mil famílias tubaronenses que vivem em situação de vulnerabilidade, inscritas nos programas sociais do governo. Destas, cinco mil vivem com até meio salário-mínimo. E 3.253 famílias têm até R$ 218 por pessoa para sobreviver naquele mês.
Na repercussão das colunas foi possível ver como ainda precisamos evoluir muito para reduzir a desigualdade. Certa vez, a cantora Mariah Carey disse numa entrevista que “fomos socializados para acreditar que a pobreza é um fracasso pessoal, e não nossos sistemas falhando.” O argumento da cantora, que tem uma fortuna bilionária, é contrário à ideologia da meritocracia, que coloca o indivíduo acima das condições sociais.
Ela completou: “Há momentos em que não consigo acreditar que morava em barracos, que sempre me sentia insegura, pouco cuidada, solitária e perpetuamente assustada. Há uma vilanização daqueles que têm necessidades não atendidas, seja o acesso a cuidados de saúde (incluindo cuidados de saúde mental), ajuda financeira, habitação a preços acessíveis, muito menos a oportunidade de rir e encontrar alegria além do trabalho.”
Nesta semana a discussão de como a desigualdade nos afeta no dia a dia virou tema nacional, com o caso do motorista de Porsche em São Paulo, avaliado em R$ 1,3 milhão, que após causar o acidente que matou um motorista de aplicativo não foi importunado pela polícia nem para fazer o bafômetro. E do cadeirante pobre e negro agredido dentro de casa pela mesma polícia militar, após ter o seu filho espancado sem motivo algum.
O problema não está nos policiais, apenas, mas em toda a sociedade. Costumamos admirar, ou invejar, a riqueza. O assunto mais comentado da semana é a jovem bilionária herdeira da Weg. Quando as matérias falam da desigualdade social, da concentração de renda, do fato dos mais ricos pagarem menos impostos, poucos se interessam. E quem fala sobre isso é taxado de comunista e de querer acabar com os ricos, e não com a pobreza.