Você conhece bem a história a seguir: da mulher que tinha um bom marido, que a tratava bem, com carinho, não deixava faltar comida em casa. Mais do que isso: carro na garagem, comprava eletrodomésticos novos, reformou a casa. Viajava de vez em quando. Mas... e tudo tem um mas, porque ninguém é perfeito, ele bebia. Andou em más companhias. Envolveu-se em uns negócios escabrosos. Aprontou tanto que foi preso. E ela mandou o infeliz embora.
A fila andou e ela conheceu um militar reformado na internet. Homem que se apresentou como defensor da moral e dos bons costumes. Andava armado, ela não gostava, mas isso não chegou a ser um problema, pois ele era militar, ela justificava. Também tolerava os amigos milicianos que ele tinha, e o péssimo hábito de não trabalhar para passear de moto. Tudo era relevado. Importante é que tinha um novo amor para esquecer o ex-marido cachaceiro.
Mas a relação se desgastou. Ele é muito grosseiro com ela. Suas piadas sem-noção e politicamente incorretas, que no início ela confundia com espontaneidade, perderam a graça. Não viaja mais; trocar de carro ou reformar a casa nem pensar, tudo está muito caro. Também não acha certo ele sempre sair para passear de moto com os amigos enquanto falta comida em casa. Pensa em mandar esse estrupício embora. É só uma questão de tempo.
Esse marido grosseirão a fez ter saudades do ex. Os defeitos dele não parecem tão grandes agora, pois ela tinha uma vida feliz e sabia disso. Viajava, comprou carro novo, pago em seis anos sem juros, a gasolina não era tão cara. Ia no mercado sem levar sustos e ainda enchia o carrinho. O ex quer voltar, diz que está mudado. Mas como dizer para a família e para as amigas que ela quer voltar com o ex-marido, que ela dizia para todos que não prestava?
Envergonhada, hoje ela ainda não fala abertamente que quer voltar para o ex, mas não para de pensar nisso. Ainda está casada, tolera as grosserias do atual. Prometeu a si mesma que até outubro toma uma decisão. Vai que o atual mude, a trate melhor, leve comida e dinheiro para dentro de casa. Nunca se sabe. Ninguém sabe o que se passa no coração de uma mulher. “É melhor ele já ir se acostumando”, resmunga, enquanto prepara o almoço: lula com chuchu.