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BLOGS E COLUNAS

A apropriação indevida da bandeira brasileira

04/09/2021 16h43

Um grupo que reunia centenas de crianças, mais inquietas do que o normal, estava enfileirado na rua Lauro Müller, em Tubarão, numa manhã ensolarada da primavera de 1976. Professoras tentavam organizar as crianças para que não transpassassem uma corda que delimitava a rua. Cada criança segurava uma bandeirola do Brasil, à espera da passagem da comitiva do general Ernesto Geisel. O quarto presidente da ditadura militar estava na cidade para inaugurar a ampliação da Usina Jorge Lacerda, que fica em Capivari, então bairro de Tubarão.


Não demorou muito para que um carro preto imponente passasse em meio a outros – soube-se depois que era um Galaxie Landau. As professoras orientaram as crianças a agitarem suas bandeirolas, tal qual haviam ensaiado nos dias anteriores. Com algum esforço, dava para ver o presidente, já velhinho, sentado no banco de trás daquele carrão, acenando e rindo, satisfeito com a recepção calorosa que as crianças tubaronenses ofereciam – essas, sem saber direito o que se tratava, pois as mais novas tinham apenas sete anos. Não tinham noção de que estavam servindo como massa de manobra.


Era o meu caso. Eu era uma dessas crianças que a ditadura militar recrutou para servir de figuração nesse teatro de boas-vindas ao general. Já estávamos acostumados a essa subserviência, afinal éramos devidamente doutrinados nas aulas de Educação Moral e Cívica, e só entrávamos na sala depois de cantar o hino nacional. Se eu soubesse, naquela época, o que sei hoje sobre as mortes e as torturas do regime militar, com toda a certeza não estaria formando fila para saudar o general. Mas éramos crianças, sendo abusadas ali, tal como obrigam hoje os norte-coreanos a saudar seu ditador.


Não é que eu seja antipatriota, muito pelo contrário. E sempre gostei de ouvir o hino brasileiro, sobretudo quando tocava na Fórmula 1, após as vitórias do Ayrton Senna. Ou nas medalhas de ouro conquistadas pelos nossos atletas olímpicos, e antes dos jogos da Seleção na Copa. Nunca cheguei a ser caricato como o Véio da Havan, mas nas copas eu comprava uma camiseta da Seleção, mesmo após o vexame do 7x1. No entanto, o que se vê hoje é uma apropriação indevida da nossa bandeira, e das cores que nos representam, por parte de um grupo, para fins políticos e ideológicos.


Neste 7 de Setembro, alguns lunáticos usarão a nossa bandeira e vestirão verde e amarelo para defender pautas inconstitucionais, o que é ilegal e deve ser combatido. Dizem que é a favor da liberdade e da democracia, mas pregam o fechamento do STF e do Congresso, criticam as instituições e exigem uma intervenção militar – um golpe, em português fluente. A maioria dos que hoje querem a volta dos anos de chumbo vivenciou a ditadura militar, têm idade e experiência para entender, mas até hoje não perceberam que foram, e continuam sendo, massa de manobra, apenas.



LÚCIO FLÁVIO
Lúcio Flávio de Oliveira
Diretor de Redação do Sul Agora. Lúcio Flávio de Oliveira é formado em Comunicação Social (Jornalismo) e Direito pela Unisul e tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV.
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