A proclamação da República aconteceu há mais de um século, mas quantos brasileiros realmente sabem o que ela significa? Na memória escolar, ela se dissolve em uma linha do tempo, uma aula rápida sobre Marechal Deodoro, como se fosse só mais uma data a decorar. Mas o que ficou dela?
República é uma palavra que nasceu para ser imensa, cheia de esperança. Ela nos prometia que a voz do povo valeria, que o governo existiria para servir e não para reinar. Que cada cidadão teria direito a um pedaço de Brasil, não apenas aqueles com sangue nobre ou influência. Mas o tempo passou, e as promessas ficaram no papel.
Hoje, muitos brasileiros sentem o peso de um patriotismo conturbado, desconfiado, onde a palavra “pátria” às vezes é dita com um nó na garganta. A bandeira, que deveria ser símbolo de união, acaba marcada por disputas, rótulos, polarizações. E, em meio a tudo isso, a ideia de República parece perdida, quase esquecida.
Porque República não é uma data, um feriado, um desfile. É o compromisso de que o poder deve vir do povo e para o povo. É um acordo de que o Estado deve existir para todos, e não para alguns. Mas quantos de nós ainda sentem isso? Quantos brasileiros olham para o país e se reconhecem?
Em tempos de desconfiança, o significado de República se revela no que ficou faltando: no direito de participar, na honestidade de governar, na dignidade de cada cidadão. Celebrar a República deveria ser celebrar a possibilidade de que o Brasil é, ou pode ser, de todos nós. Mas isso exige uma responsabilidade maior do que uma data: exige um pacto de verdade e justiça que ainda estamos longe de cumprir.
Talvez, um dia, quando olharmos para a República e não a vermos como um fato distante, mas como uma tarefa diária, possamos nos reencontrar com o verdadeiro significado dela. Até lá, é nosso papel continuar questionando, cobrando e, acima de tudo, acreditando. Porque, no fundo, a República só existe enquanto nós acreditarmos nela.
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