Religião e sexualidade são como duas dançarinas que compartilham o mesmo palco, mas raramente conseguem se mover no mesmo ritmo. De um lado, os dogmas, com suas regras rígidas e inquestionáveis, dizem o que é certo e o que é errado, definindo o que pode e o que não pode ser feito. Do outro, a sexualidade pulsa como uma música interna, indomável, com suas notas imprevisíveis e sua própria maneira de ser.
Desde cedo, aprendemos que há caminhos certos e errados para seguir. Muitos crescem ouvindo sermões que falam sobre pureza, castidade e pecado, como se o corpo fosse uma prisão que precisa ser controlada a todo custo. A religião, com suas verdades absolutas, se esforça para moldar o desejo à sua imagem, exigindo obediência, frequentemente à custa da nossa própria natureza.
Mas a sexualidade é um rio que segue seu curso, alheio às margens que tentam contê-lo. Ela é instinto, curiosidade, afeto e descoberta. E aí está o dilema: como conciliar um desejo que é tão humano com preceitos que, muitas vezes, parecem querer negar a própria humanidade?
Há quem encontre um jeito de costurar esses dois mundos. Molda sua sexualidade dentro dos limites que a fé permite, ajustando seus passos para não desagradar o divino. Mas há também quem viva no conflito constante, escondendo uma parte de si por medo de desagradar, de ser punido ou simplesmente de não ser aceito.
E talvez o problema esteja justamente na crença de que esses dois lados precisam sempre se enfrentar. A religião, em sua essência, fala de amor, compaixão, compreensão. Já a sexualidade, quando vivida com respeito e consciência, é também uma forma de conexão, de entrega, de amar o outro e a si mesmo. Será que, em algum lugar entre os textos sagrados e os desejos humanos, não há espaço para o encontro?
Os dogmas que nos cercam são construções antigas, frutos de uma época que talvez não compreendesse a complexidade do ser humano como hoje tentamos entender. E, ainda que a fé seja imutável para muitos, a interpretação dela pode - e deve - evoluir. A religião pode ser um guia, mas não deveria ser uma prisão.
No fim, entre dogmas e desejos, o que se busca é paz. Paz para viver o que somos, sem medo de um castigo eterno, sem carregar culpas que não deveriam existir. Paz para encontrar, dentro de si, um lugar onde a fé e o desejo possam, se não dançar no mesmo ritmo, ao menos coexistir sem que um precise calar o outro. Porque, no fundo, tanto a religião quanto a sexualidade são formas de buscar o que nos faz plenos. E é dessa plenitude que somos feitos.
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