Que toquem as trombetas do Apocalipse. Que as estrelas caiam do céu ardendo como tochas. Que os selos sejam rasgados. Que os anjos desçam. Que as rochas se abram.
O mundo está cada vez menos habitável.
Uma ponte se tornou palco da mais brutal das violências. Um pai jogou seu próprio filho no abismo. Uma criança, frágil e indefesa, caiu das mãos que deveriam segurá-la para sempre. Não foi apenas um corpo que despencou no vazio, foi a nossa humanidade que caiu junto.
Diante de algo assim, não há palavras suficientes. Só um silêncio pesado, sufocante, que grita dentro da gente. Como se cada um de nós tivesse caído um pouco daquela ponte também.
O que está acontecendo conosco? Em que momento perdemos tanto a medida do amor? Como é possível que as mãos que geram também destruam?
Vivemos tempos em que a barbárie já não choca como deveria. Em que o horror é registrado, comentado, noticiado, mas logo se dissolve na enxurrada de outras tragédias diárias. Mas há dores que não podem ser esquecidas. Há crimes que não podem ser normalizados.
O mundo está menos habitável porque estamos falhando em proteger o que há de mais precioso. Porque nos acostumamos a ver crianças pagarem com a vida pelo desequilíbrio dos adultos. Porque as pontes, ao invés de nos ligarem, estão se tornando túmulos.
Que as trombetas toquem. Que os selos se rasguem. Que o mundo acabe, se for para ser um lugar onde o amor se tornou tão escasso.
Ou que, ao menos, algo renasça das cinzas dessa destruição. Porque se não aprendermos nada com essas quedas, estaremos todos condenados a despencar junto.
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