O que era para ser solução virou moda.
E o que deveria ser exceção virou rotina.
Falo do uso famigerado dos hormônios, receitados aos montes, vendidos como elixires da juventude, aplicados como se o corpo fosse laboratório e o tempo, inimigo.
É compreensível: quem não quer mais energia, pele firme, libido em alta e disposição para viver como se o relógio biológico tivesse parado?
O problema é quando a promessa de juventude vem sem o devido cuidado, sem exame, sem critério — e, principalmente, sem verdade.
Hormônio não é vitamina. Não é suplemento natural. Não é perfume que se testa na pele pra ver se combina.
É substância viva, potente, que atua diretamente no coração, no cérebro, nos rins, nos vasos sanguíneos.
E quando usado de forma irresponsável — sem necessidade real, sem acompanhamento adequado — o resultado pode ser devastador:
Coágulos, tromboses, alterações hepáticas, AVCs, fístulas, desequilíbrios emocionais, insônia, ansiedade e até câncer.
O que começa como um “ajuste” pode terminar como um desequilíbrio sistêmico.
E o pior: às vezes o corpo avisa, mas a vaidade silencia.
A paciente sente os sinais, mas não quer abrir mão do resultado estético.
Fica refém do corpo performático e escrava da promessa de estar “bem”, mesmo quando tudo dentro grita que não está.
O que está por trás disso?
A pressão estética, o medo de envelhecer, o culto à aparência e a venda irresponsável de tratamentos hormonais sem respaldo da medicina baseada em evidências.
E, claro, o lucro.
Sempre o lucro.
Não, essa não é uma condenação ao uso de hormônios.
Quando bem indicados, com exames rigorosos, acompanhamento endocrinológico ou ginecológico, e objetivos terapêuticos claros, eles são aliados.
Mas quando usados por modismo, vaidade ou manipulação de falsas promessas, tornam-se armadilhas.
É preciso coragem para envelhecer com saúde.
É preciso lucidez para entender que o corpo não precisa ser jovem para ser feliz.
E que o bem-estar real não vem do que colocamos dentro à força, mas do que cultivamos com equilíbrio e consciência.
Cuidar de si é também saber dizer “não” ao que parece milagre.
E dizer “sim” ao que realmente cura: informação, respeito ao corpo e amor-próprio.
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