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BLOGS E COLUNAS

Fim dos tempos!

16/04/2025 06h15

Na minha época, roleta russa era com arma (não que isso seja adequado também).


“Meu Deus do céu”, pensei alto, com o celular tremendo na mão, os olhos arregalados, a boca entreaberta e o cérebro… offline. Foi assim que recebi a história que me tirou da internet por alguns minutos — não por problema de conexão, mas por absoluta falta de capacidade de reação.


Uma aluna, adolescente, olha nos olhos da professora e diz, sem pestanejar:


— Tô grávida.


— De quem?


— Não sei, foi depois da roleta russa…


— Roleta russa???


— É, de p@u…


Silêncio. O tipo de silêncio que não é confortável nem breve. Silêncio que engasga. A professora, coitada, mal teve tempo de absorver a informação. E eu, do lado de cá, como todo mundo que cruzou com esse relato nas redes, precisei de uns minutos fora do ar. Fui tomar um copo d’água. Respirar. Reorganizar o software mental.


Na minha época — olha eu soando como tia do pavê — roleta russa era coisa de filme de guerra. Uma arma, um tambor girando, um risco de morte. Errado, perigoso, absurdo? Claro. Mas essa nova versão, essa versão sexualizada, institucionalizada entre os muros da escola, me deixou sem chão. Não porque eu queira viver num mundo perfeito (que não existe), mas porque me preocupa o que tem ocupado os espaços que antes eram feitos de conversa, de consciência, de responsabilidade.


Não é só sobre sexo. É sobre a ausência de cuidado. Sobre um sistema falido que ensina trigonometria, mas se recusa a falar sobre o próprio corpo. Sobre jovens que transformam algo íntimo, complexo, cheio de camadas, em uma brincadeira de quem “acerta primeiro”. Sobre o riso no lugar da reflexão. E sobre um futuro que já começa confuso antes mesmo de aprender a caminhar — literalmente.


Essa crônica não é moralista. É, talvez, um pedido. Um apelo. Para que pais conversem, escolas eduquem, e a internet não seja a única professora desses meninos e meninas que carregam tanto no corpo, mas ainda tão pouco na alma. A vida não é brincadeira. O corpo também não. Sexo não é roleta. E uma criança merece mais do que ser consequência de um jogo.


Que a gente não normalize o absurdo só porque ele viralizou. Que a gente não silencie quando tudo dentro de nós grita: Meu Deus do céu…


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SIBÉLE CRISTINA
Coluna atualizada de segunda a sábado
Sibéle Cristina Garcia é apresentadora do programa Mais Mulher na UniTVSC desde maio de 2008. Graduada em Pedagogia e Marketing. Pós-graduada em Sexualidade Humana e Sexologia. É especialista em Relacionamento Abusivo, comunicadora, terapeuta e encorajadora da liberdade feminina.
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