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“Parei de me sentar em mesas onde eu posso ser o assunto quando me levanto!”

14/10/2024 14h50

Há uma elegância silenciosa em saber a hora de se levantar. E, mais ainda, em saber de quais mesas não devemos mais voltar a nos sentar. É um instinto que se afina com o tempo, como quem aprende a ler o ambiente pelo cheiro do ar ou pelo peso do silêncio. Porque há mesas que não são lugares de convívio, mas de julgamento. E eu, finalmente, parei de me sentar nelas — aquelas mesas onde, mal me levanto, viro o assunto do próximo brinde.


Já passei muito tempo tentando pertencer, me adaptando a conversas que não tinham nada a ver comigo, rindo de piadas que não me faziam rir de verdade. Tudo isso para manter uma cadeira em mesas que, no fundo, me serviam desconforto em pratos disfarçados de afeto. Mas a verdade é que o preço de ser aceito por quem não nos entende é alto demais. Custa nossa autenticidade, nossa essência, nosso respeito próprio.


Essas mesas são traiçoeiras, cheias de pequenos olhares que desviam quando você tenta se abrir. São mesas onde as conversas são afáveis na sua frente, mas, assim que você se levanta, os sorrisos se viram em facas, afiadas com a hipocrisia dos que julgam pelas costas. Demorei a perceber que essas conversas continuavam mesmo quando eu já havia saído, e que, muitas vezes, eu era o prato principal.


O mais doloroso é que essas mesas, em algum momento, já pareceram seguras. Eram mesas de amigos, de colegas, de familiares até. Mas há uma diferença entre companhias que nos acolhem e aquelas que apenas nos suportam. É sutil, mas está lá, no jeito como as palavras pesam quando a gente fala, no desconforto que surge quando nossa verdade vem à tona. E é aí que você percebe: essa mesa não é sua.


Há uma libertação poderosa em se afastar dessas mesas. Levantar-se e ir embora não é fugir, é preservar-se. É escolher não ser a marionete dos julgamentos alheios, não alimentar conversas que nos diminuem assim que damos as costas. É um ato de coragem, mas também de amor-próprio. E eu escolhi o amor-próprio. Escolhi estar em mesas onde minha ausência é sentida, e não comentada. Onde, quando me levanto, o que fica é o respeito, não o veneno.


Não quero mais cadeiras onde preciso provar quem sou, onde minha vulnerabilidade é distorcida e usada como munição para quem precisa falar de mim para evitar olhar para si mesmo. Quero mesas pequenas, sim, mas repletas de genuinidade. Mesas onde a sinceridade é prato principal, e o respeito, o tempero. Mesas onde posso me levantar sem medo de me tornar a história mal contada, porque o que nos une ali é muito mais forte do que qualquer julgamento.


Parei de me sentar em mesas onde eu sou o assunto quando me levanto, porque, na verdade, o problema nunca foi eu ter saído — o problema sempre foi quem ficou. E agora, mais do que nunca, escolho estar onde eu possa ser eu, sem ter que me dividir entre o que sou e o que esperam que eu seja.


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SIBÉLE CRISTINA
Coluna atualizada de segunda a sábado
Sibéle Cristina Garcia é apresentadora do programa Mais Mulher na UniTVSC desde maio de 2008. Graduada em Pedagogia e Marketing. Pós-graduada em Sexualidade Humana e Sexologia. É especialista em Relacionamento Abusivo, comunicadora, terapeuta e encorajadora da liberdade feminina.
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