Bom dia, meu amigo Roberto! Quanto tempo, hein? Já se passaram três meses! Como estão as coisas?
Roberto sorriu, mas havia uma sombra de melancolia em seu olhar, algo que não se podia ignorar.
- As coisas não vão bem, Creonte - disse ele, com um suspiro. - Você sabe como é… Depois que nosso candidato perdeu as eleições, como somos cargos comissionados, perdemos o emprego. E agora, aqui estou eu, novamente à procura de uma oportunidade. Na nossa idade, é difícil encontrar algo que se iguale ao que tínhamos. E você, meu amigo, conseguiu se estabelecer em outro cargo no setor privado?
- Outro cargo no setor privado? Como assim, Roberto? Continuo no mesmo departamento. Não sabia disso?
- Você deve estar brincando comigo, Creonte! Nós apoiamos o candidato que perdeu. Quando o novo governo assumiu, o primeiro ato foi uma “limpeza”. E, com razão, quem se alinha com o vencedor ocupa o lugar dos que ficaram para trás. Eu imaginava que você também tivesse sido exonerado…
- Ora, Roberto, você já deveria saber que político não tem apoiadores fiéis, apenas interesseiros - disse Creonte, com um sorriso irônico. - Eles adoram receber elogios. E quem é bom em bajular, está sempre um passo à frente de quem fala a verdade.
- Não estou entendendo, Creonte!
- Deixe-me explicar, meu amigo. Se quisesse manter o seu cargo, deveria ter se aproximado do vencedor, olhado bem no fundo dos olhos dele e dito, com toda a sinceridade do mundo, frases prontas que ele gosta de ouvir.
- Mas como poderia fazer isso, se apoiei o adversário dele?
- Eu também apoiei o outro! Mas, ao contrário de você, fui ágil. Procurei o vencedor e lhe disse que ele era a melhor opção para a cidade, que era um homem sábio e preparado para governar.
- Meu Deus, Creonte! Como você consegue fazer isso?
- Não é tão difícil. Para se manter no jogo, basta concordar com tudo o que o “líder” diz. Nunca se opor! E, mesmo que ele seja menos inteligente que você, faça-o acreditar que ele é um gênio e que tudo o que ele diz é a mais pura verdade. Veja, estou há vinte anos no meu cargo, mesmo tendo apoiado candidatos derrotados.
- Mas tudo isso não passa de mentira, Creonte!
- E quem disse que eles querem ouvir a verdade?
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