O menino morava num recanto onde, para a maioria dos adultos, os dias se arrastavam em cansativas e rotineiras repetições. Gente grande é um caso sério: muitos deles se tornam cegos e surdos para as diferenças nos dias que parecem iguais.
A sorte das belezas do mundo são os olhinhos gratos e apurados das crianças e das pessoas grandes que mantêm o coração infantil, pois são elas que não deixam escapar a graciosidade e as sutilezas da natureza: o céu hoje está mais azul que ontem, as borboletas e os passarinhos que visitam o quintal nunca são os mesmos; têm cores e cantos diferentes.
O ipê-amarelo amanheceu florido, os botões das rosas vermelhas desabrocharam, as laranjeiras e os mamoeiros estão carregados de frutos...
Apesar dos esforços de Deus e da "Mãe Natureza" para exibir suas magnÃficas e incomparáveis obras de arte, o pai do menino, que vive no "paraÃso" sem perceber, acorda todas as manhãs chateado e resmungando sobre a triste sorte de ter nascido em um lugar onde, em sua percepção apática, as coisas nunca mudam.