Não há lugar seguro! Nunca houve. As tragédias – preveníveis ou não – continuam a suprimir vidas por aí. A morte pode ser cruel e, com certeza, usa a criatividade e artifícios para cumprir sua lúgubre missão.
Um homem, confortavelmente deitado no sofá da sala, lia um livro. Sua esposa, na cozinha, preparava o almoço. Seu filho, no quarto, estudava para a prova de matemática do dia seguinte. O livro não foi lido até o fim, a comida não ficou pronta e o dia da avaliação escolar não chegou para o garoto. Todos perderam a vida quando a casa foi engolida por um mar de lama expelida pelo rompimento de uma barragem na localidade vizinha.
A viagem aérea seria longa e cansativa, dezenas de passageiros dormiam quando os motores do avião falharam. A aeronave perdeu altitude e explodiu quando caiu na mata atlântica de uma região isolada, transformando em sono eterno o descanso casual daquela gente.
Dia de sol. Céu bonito. Água refrescante. Várias pessoas da mesma família passeavam de lancha no ponto turístico mais requisitado da região: os cânions da cidade mineira de Capitólio. Diversão, cantoria e a perspectiva de um dia maravilhoso em família. Mas a alegria foi reduzida a flagelo quando um enorme paredão de rocha se desprendeu da encosta e caiu em cima da lancha.
Ouvi dizer que uma mulher, em sua casa, assistindo o noticiário sobre a tristeza de Capitólio, assustada e perplexa, disse ao marido:
A pretensão de se considerar superior aos olhos do Onipotente é um sentimento muito mais degradante do que a própria morte.
Por outro lado, é inegável que se uma pessoa (por acaso, ou por qualquer outro motivo) perde o horário de embarque em um avião que posteriormente cai, se livra de uma tragédia.
O pós-tragédia é o momento de nos colocarmos emocionalmente no lugar dos familiares das pessoas que perderam a vida, não de espalhar aos quatro ventos o quanto hipoteticamente somos protegidos pelo dono do mundo.
O próprio Deus não se agrada disso!