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BLOGS E COLUNAS

Amarga ilusão de Natal

20/12/2019 14h28

Caminhando pelas ruas centrais de Tubarão, deparei-me com um antigo desafeto.
Ele continuava sorridente, simpático, amigável... Praticamente não tinha mudado nada desde o tempo que o conheci.
Naquela época, eu era criança, influenciável... Mas agora sou adulto e não me deixo iludir com sorrisinhos falsos. Safado! Mentiroso! Farsante! Confesso que ao vê-lo não pude conter as lágrimas. Como ele pôde ser tão cruel com um garotinho de oito anos? Então eu decidi que era hora de acertarmos as contas. Caminhei na direção dele, e disse:
— Lembra-se de mim?
— Não! — disse ele, sem entender meu tom de voz agressivo.
— Pois eu nunca vou te esquecer. Safado!
— Calma! O que eu fiz pra você?
— Não se faça de desentendido, Papai Noel!
— Não sei mesmo!
— Então vou refrescar sua memória. Quando eu tinha oito anos, escrevi uma carta para o senhor com um pedido de Natal bem simples: uma bola de futebol!
Passei de ano na escola, fui um bom menino, obedeci meus pais...
— Mas eu....
— Cala a boca, que ainda não terminei de falar! — interrompi. — Quando eu tinha oito anos, na manhã do dia de Natal, acordei cedinho e fui correndo ver o presépio que minha mãe tinha feito com um galho de pinheiro. Eu esperava encontrar a maldita bola de futebol que pedi para o senhor. Mas para minha triste surpresa não havia nada! É, desgraçado, mas nas casas dos meus amiguinhos você foi! Só eu não ganhei presente naquele Natal. Você acha isso justo, Papai Noel?
— Meu amigo — disse ele — Você é adulto e sabe que quem coloca os presentes nos presépios são os pais. Nós, os papais-noéis, somos criação do comércio.
— Hoje eu sei, mas quando eu era criança pobre não sabia disso. Eu acreditava que a frase da música “seja rico ou seja pobre, o velhinho sem vem” fosse de verdade.
— Eu não sei o que dizer...
— Depositei toda a minha esperança em você, Papai Noel. — o interrompi mais uma vez.
— Me perdoe!
— Quer saber de uma coisa? Tenho filhos e nunca alimentei neles a ilusão de que você entra pela chaminé para lhes trazer presentes de Natal. Sempre fiz questão de dizer que os presentes que eles ganhassem seriam resultado do fruto do suor do meu trabalho.
— Você está certo! — concordou Papai Noel.
— É muito decepcionante alimentar a esperança das crianças com uma mentira. Como você acha que fica o coraçãozinho de um menininho pobre ao ver que você visita as casas das crianças abastadas e a dele não?
Envergonhado, Papai Noel não respondeu. Tirou a touca vermelha, arrancou a barba falsa e foi embora para nunca mais voltar.
E viva o verdadeiro sentido do Natal: o nascimento de Jesus Cristo!



MACIEL BROGNOLI
Crônicas e contos
Maciel Brognoli é guarda municipal de Tubarão, graduado em Administração Pública, especialista em Segurança Pública e Gestão de Trânsito e escritor. Ocupa a cadeira n° 27 da Academia Tubaronense de Letras (Acatul) e escreveu quatro livros.
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