Hoje pela manhã, enquanto pedalava por alguns bairros da cidade, notei o acúmulo de lixo em diversos pontos. Inicialmente, não compreendi a causa daquela situação.
Contudo, por coincidência, ouvi na rádio Cidade uma entrevista com o administrador da Racli, que abordava exatamente esse problema. Foi então que percebi que a questão ia além de uma falha operacional: tratava-se de um reflexo da desvalorização humana e do pouco reconhecimento dado a um ofício essencial, mas frequentemente invisibilizado.
Segundo o entrevistado — uma pessoa íntegra, a quem conheço e respeito —, o atraso na coleta de lixo em Tubarão foi causado por um número significativo de ausências dos trabalhadores nos dias seguintes ao Natal e ao Ano Novo.
Esse cenário me levou a refletir sobre dois pontos cruciais: o desrespeito da população para com os trabalhadores da limpeza urbana e as condições precárias de trabalho enfrentadas por essa categoria.
Diariamente, encontramos pelas ruas latas de cerveja, garrafas plásticas, papéis de bala e bitucas de cigarro descartados indiscriminadamente. Quem age assim, além de poluir, demonstra desprezo pelos coletores de lixo, que, muitas vezes, sequer recebem um olhar de reconhecimento enquanto varrem ruas ou correm atrás de caminhões para cumprir longas jornadas.
É um paradoxo: poucos estão dispostos a assumir o trabalho de recolher lixo, mas todos exigem ruas limpas e um serviço impecável.
O problema, no fundo, é de valorização humana. Esses trabalhadores exercem um papel vital para a saúde pública e a qualidade de vida urbana, mas frequentemente recebem salários insuficientes e enfrentam jornadas exaustivas que não condizem com a importância de sua função.
Como esperar que essas pessoas se sintam motivadas a desempenhar suas tarefas com excelência sem oferecer o mínimo de valorização e dignidade?
Minha sugestão é que, no próximo ano, a Racli, em parceria com a prefeitura, repense o calendário de coleta de lixo, garantindo folga a todos os funcionários nos dias 24, 25, 31 de dezembro e 1º de janeiro.
Com planejamento e ajustes no cronograma, é perfeitamente possível organizar essa pausa sem comprometer o serviço. Melhor uma interrupção programada de dois dias do que o caos causado por semanas de ausência de pessoal.
Entretanto, isso é apenas o começo. É necessário ir além e implementar ações que realmente valorizem esses profissionais. Salários justos, benefícios adicionais por assiduidade e desempenho, e condições de trabalho adequadas são fundamentais.
Além disso, a sociedade como um todo pode contribuir. Instituições como a prefeitura, Acit, CDL, maçonaria, igrejas e outras organizações poderiam criar fundos ou premiações para incentivar esses profissionais. Pequenas frações de seus recursos já fariam grande diferença para reconhecer o esforço e dedicação desses trabalhadores que limpam a nossa cidade.
Por fim, cabe a cada cidadão refletir sobre seu papel. Respeitar a cidade e os trabalhadores da limpeza começa por atitudes simples: não jogar lixo nas ruas, tratar os coletores com gentileza e reconhecer a importância de seu trabalho. A máxima “gentileza gera gentileza” não é apenas um clichê, mas uma prática que pode transformar a relação entre a população e esses profissionais essenciais.
Estamos no início de um novo ano, há um ano inteiro para planejar mudanças que evitem a repetição desse problema. Caso nada seja feito, as queixas continuarão e os trabalhadores seguirão desvalorizados, faltando ao trabalho por cansaço ou desmotivação.
Por isso, deixo aqui um apelo: valorizemos aqueles que desempenham funções essenciais e frequentemente invisíveis. Somente assim construiremos uma sociedade mais justa, empática e funcional.
Receba outras colunas direto em seu WhatsApp. Clique aqui.