Nós, brasileiros, éramos alegres e sabíamos disso. Que outro povo no mundo consegue festejar quatro dias seguidos de Carnaval todo ano, apesar de toda miséria, de toda desigualdade social e de toda violência que nos cerca? Que outro povo, não conseguindo esperar um ano inteiro pelo próximo, ainda promovia os carnavais fora de época?
Mas veio Bolsonaro, o homem errado, na hora errada, com as ideias erradas, na pior tragédia brasileira desde o descobrimento. Ele não inventou o vírus, eu sei, mas o negou, num primeiro momento; depois o minimizou, e por último não o combateu. Enquanto outros países vacinam sua população e vão vencendo o vírus, nós estamos largados à própria sorte.
Não fosse o governador paulista João Doria e sua vacina chinesa, tão criticada por Bolsonaro, nem nossos velhinhos estariam sendo vacinados, nesse momento. “Tem idiota que diz ´vai comprar vacina´. Só se for na casa da tua mãe. Não tem pra vender no mundo”, esbravejou dia desses. Não tem mesmo, porque quem não é idiota já comprou no ano passado.
Hoje nosso povo anda triste, com medo, desanimado. Quem já não perdeu familiares ou amigos nesta covid? Ou que estão nos hospitais lutando pela vida - isto quando se consegue vaga. Nem lamentar podemos, na visão doentia deste que não tem a menor empatia com o sofrimento das famílias enlutadas. “Chega de frescura e mimimi, vão chorar até quando?”
Mas brasileiro não desiste nunca, não é o que dizem? Seguimos acreditando que as coisas vão melhorar. Nem sei como escrever isso, então me apego às palavras do grande Chico Buarque, que escreveu há 50 anos essa preciosidade que serve até hoje: “Apesar de você/ amanhã há de ser outro dia./ Eu pergunto a você/ onde vai se esconder/ da enorme euforia?"
"Quando chegar o momento/ esse meu sofrimento/ vou cobrar com juros. Juro!/ Todo esse amor reprimido,/ esse grito contido,/ esse samba no escuro./ Você que inventou a tristeza/ ora, tenha a fineza/ de ´desinventar´./ Você vai pagar e é dobrado/ cada lágrima rolada/ nesse meu penar./ Apesar de você/ amanhã há de ser outro dia/ Você vai se dar mal.”