Uma das cenas mais icônicas da televisão brasileira é o final da novela Vale Tudo, exibida pela Rede Globo em 1988. O personagem de Reginaldo Faria, para escapar da Justiça, fugia do país e, a bordo de seu jatinho, ao som de Gal Costa cantando Cazuza (“Brasil, mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim”), dava uma banana para o Brasil.
Lembrei desta cena ao saber que Bolsonaro não vai passar a faixa para Lula e, ao invés disso, estava fugindo, ops, indo para os Estados Unidos. Não surpreende ninguém o fato dele dar uma banana para os brasileiros e ir se divertir em Orlando, na Flórida, ao invés de passar a faixa ao novo presidente, legitimamente escolhido pela maioria da população.
Bolsonaro deu uma banana para o país nestes quatro anos de desgoverno. Fez isso na pandemia, que matou quase 700 mil brasileiros, sem visitar um único hospital. Retardou a compra de vacinas, foi contra o uso de máscaras, fez pouco caso da doença e o Brasil teve 11% das mortes por covid no mundo, enquanto somos 3% da população mundial.
Dava uma banana para a Justiça na ligação com as milícias, as rachadinhas, as mansões compradas com dinheiro vivo, a interferência na Polícia Federal, os sigilos de 100 anos, o Queiroz e o cheque nunca explicado na conta da sua mulher. Um presidente que deixava de trabalhar para passear de moto, sem capacete, outro péssimo exemplo de desrespeito à lei.
Estimulou o crime ambiental, o massacre dos índios e a invasão de suas terras. Afrouxou a fiscalização e, com isso, aumentou o desmatamento da Amazônia em 75%, para a boiada passar. Armou o país e encorajou covardes, e hoje temos terroristas que querem explodir aeroportos. Muitas mulheres precisam fugir de ex-maridos armados.
Deixaremos de ser um pária para voltar a ter protagonismo no cenário internacional. O presidente do Brasil não precisará mais comer pizza na calçada, excluído das reuniões com líderes mundiais por não ter se vacinado. O fim da triste era Bolsonaro é também o fim do negacionismo e do desprezo à vida. O Brasil não merecia ter passado por isso.
Com ele, aumentou a desigualdade, deixando o país com 33 milhões de famintos. Felizmente, o Brasil deixará de ter um presidente espalhador de fake news, geradas pelo gabinete do ódio. Um moleque tuiteiro, que fazia lives parecidas com as dos terroristas do Estado Islâmico. O Brasil precisa ser reconstruído depois dessa catástrofe chamada Bolsonaro.
Por essas coincidências do destino, a personagem interpretada pela atriz Cássia Kis na novela era a mulher do fugitivo e estava no mesmo jatinho. Não me surpreenderia se, junto com Bolsonaro, ela ou algum outro personagem bizarro, como a Viúva Porcina, fosse junto para os Estados Unidos. Os quartéis nos mostraram que tem louco pra tudo.
Como jornalista sempre o combati, pela ameaça que ele representava à nossa democracia, pelo desprezo à vida na pandemia, pela política econômica que aumentou a desigualdade, pelo risco à nossa floresta e ao aquecimento global e porque, acima de tudo, esse é o papel da imprensa. Um jornalista nunca deve se calar, sob o risco de ser cúmplice.