Verdade seja dita para quem acredita. Hoje, 8,6 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil. São indivíduos que, para conseguirem uma única entrevista com a empresa contratante, precisam enviar, em média, de 100 a 200 currículos por posição aberta. Isto é, a cada “CV” enviado à corporação, o candidato só tem 8,9% de chance de ser chamado para uma conversa.
E por que motivo a candidatura está tão difícil? O primeiro fator tem muito a ver com o volume de currículos recebidos. Em uma época em que as oportunidades de trabalho estão cada vez mais escassas, quando um novo cargo é aberto em determinada organização, o funcionário que está à frente da função de recrutamento e seleção chega a receber 1.000 aplicações por vaga.
Surreal assim como a desvalorização do real, pode admitir. É por isso que quem está em busca de recolocação no mercado de trabalho sofre tanto para voltar à ativa. Afinal, o cidadão precisa não só possuir a melhor formação acadêmica e a mais relevante das experiências em sua área de atuação, mas também ter a sorte de ter o seu material lido frente a 999 outros candidatos.
Tarefa impossível? Talvez não. Uma vez que as organizações contratantes e, consequentemente, os sujeitos que querem deixar a longa fila do desemprego conhecem de trás para a frente que o tão falado “RH” possui apenas 30 segundos para passar o olho e realizar o primeiro filtro em relação aos que seguirão na dança das cadeiras corporativa, algo precisa prender a sua atenção.
É aí que entra a utopia sobre o uso ou não uso da fotografia. Rechaçada por muitos recrutadores que defendem que a autoimagem aplicada à apresentação curricular só deve ocorrer quando a função a ser desempenhada exige boa aparência, como é o caso dos modelos e dos promotores de eventos, a psicanálise aplicada aos negócios, todavia, diz o contrário e está aqui para provar.
De acordo com a ciência que estuda os fenômenos inconscientes do funcionamento da psique, o rosto humano pode ser considerado uma das imagens que mais exerce influência sobre a vida das pessoas, já que é em relação a ele que as crianças, ainda na infância, recorrem sempre que precisam de algo ou alguém para prover o seu bem-estar, seja ele orgânico ou seja ele psíquico.
Neste sentido, à medida que o projeto de adulto vai crescendo, a carga emocional associada à expressão facial primitiva vai se deslocando com ele. Assim, se este indivíduo atrelou à imagem do rosto sorridente de sua mãe sentimentos de alegria e gratidão, quando ele for se relacionar com o seu pai, estes sentimentos serão sobrepostos, atualizando-se com as referências originais.
Por conta disso, quando chega a hora dos mirins irem para a escola, existem professores que eles simplesmente amam, porque a fisionomia, o semblante ou, até mesmo, a afeição se assemelham inconscientemente às características de suas genitoras. Como também há aqueles que serão odiados para sempre, pois nada tem a ver com os moldes introjetados pelos miúdos.
Percebe onde tudo isso vai dar? Partindo da mãe, deslizando para o pai, abraçando o professor, escoando para os amigos e, mais à frente, envolvendo o gestor e os colegas do trabalho, este fluxo de correlações psicológicas perfeitamente engendradas pela mente não poderia desaguar em outro ponto que não fosse neste: no currículo com foto que o candidato enviou à empresa.
Diferenciando-se por não ser uma simples folha de papel com alguns caracteres digitados por um computador qualquer, o curriculum vitae contendo o retrato do ser humano que está do outro lado tem muito mais chances de ser lembrado, porque possibilita que o recrutador abra o material e pense: “nossa, que simpático(a), vou separar este aqui para ler com mais calma”.
Deste modo, não foi o sorriso Colgate que, de tão branco, ofuscou a vista de quem abriu o arquivo, levando-o a se apaixonar pelo seu autor. Também não foi o shampoo Pantene que deixou o cabelo da pessoa tão liso e tão sedoso que precisava ser visto ao vivo e em cores. Muito menos foi a camisa Lacoste com o seu jacaré estampado para deixar o usuário com cara de rico.
E, sim, os aspectos simbólicos presentes na fotografia utilizada pelo candidato que fizeram com que o recrutador se lembrasse da ternura de sua mãe. Então, para não fazer feio não, faça uso dos recursos tecnológicos trazidos pela mercadologia para deixar o seu protótipo melhorado de selfie com aspecto profissional, recorrendo ao fotógrafo e aos serviços de edição de imagem.
Ao mesmo tempo, trabalhe para que esta criação vá além do papel, valendo-se da força do complexo materno abordado neste texto. Para isso, lembre-se sempre de: sorrir com carinho, demonstrar alegria com o olhar, deixar as maçãs do rosto coradas, além de transmitir amparo e afeto com a expressão corporal. Afinal, de um mero retrato, pode sair um excelente contrato.