Nesta edição, vamos abrir nossa maratona de críticas dos filmes indicados ao principal prêmio do Oscar 2022, cuja cerimônia de entrega das estatuetas está marcada para o próximo dia 27. Ao todo, dez produções foram indicadas, dentre elas Não Olhe Para Cima, aquele mesmo, do final do ano passado e que deu o que falar na internet, e que, como você que nos acompanha sabe, já teve sua análise publicada aqui na coluna. Desta forma, iniciaremos minha série de observações a respeito das outras nove, a começar por O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, Searchlight Pictures, EUA/2021), longa dirigido por Guillermo Del Toro, vencedor do Oscar por A Forma da Água, e que conta com grande elenco.
REMAKE
Este O Beco do Pesadelo é uma refilmagem de O Beco das Almas Perdidas, de 1947 que, por sua vez, é uma adaptação da obra O Beco das Ilusões Perdidas, escrita apenas um ano antes por William Lindsay Gresham, e que se tornou um cult da literatura norte-americana. O primeiro filme é considerado um clássico do cinema noir, e fez grande sucesso em sua época, sendo uma das produções preferidas de Del Toro, fato por ele anteriormente revelado.
Para esta difícil tarefa, o diretor mexicano não poupou no elenco, escalado a dedo com grandes estrelas, a começar por seu protagonista, o misterioso e pouco confiável – pra dizer o mínimo – Stanton Carslile, vivido magistralmente por Bradley Cooper, irretocável no papel de um sujeito que, em 1939, chega a um circo típico dos Estados Unidos naquele final de década de 30, que misturava atrações circenses tradicionais com alguns shows de horrores, como o “Selvagem”, apresentado pelo dono do circo, Clem, interpretado de maneira fantástica por Willem Dafoe, com a frase “Homem ou Fera?”, usada para instigar o público a acompanhar a atração que mostrava uma criatura, humana ou não, que devora animais vivos… Típico de Del Toro, diga-se.
A TRAMA
Com este pano de fundo, o espectador passa a acompanhar a ascensão de Stanton dentro do circo, apoiada na confiança nele depositada por Clem e nos conhecimentos de “picaretagem” que ele aprende com o casal Zeena (Toni Collette) e Pete (David Strathairn), responsáveis pela atração que envole o mentalismo no grupo. Claro, com uma pitada de falcatrua, o que, aliada à ambição do protagonista, torna-se o estopim para que ele, ao lado de sua amada Molly, a “mulher-elétrica”, personagem de Rooney Mara, partam para uma espécie de carreira solo no mundo do mentalismo, ou quase isso.
Aqui ocorre uma passagem de tempo, de dois anos, e uma mudança completa de cenário, estilo, ritmo e narrativa é mostrada ao público, com a trama agora acontecendo na cidade, já com os Estados Unidos inseridos na Segunda Guerra Mundial. Neste trecho, conhecemos a psicóloga Lillith, interpretada por Cate Blanchett – desnecessário dizer, de forma brilhante – que se alia ao charlatão para ligá-lo aos figurões da alta sociedade, em troca de poder analisá-lo. A partir daí, vários gêneros se entrelaçam na produção, que ganha ares de suspense de investigação, com um desfecho previsível até, porém não menos impactante.
PRODUÇÃO CAPRICHADA
Em especial na primeira parte, a do circo, o filme conta com um cuidado em seus cenários, seu design de produção, seu figurino e sua fotografia poucas vezes vistos, em uma reconstituição de época impecável.
Na segunda metade, este cuidado se mantém, porém torna-se menos impressionante por retratar uma situação mais corriqueira, podemos colocar assim. O que não diminui a excelência de sua execução, é importante deixar claro.
O som do longa é outra questão técnica que chama a atenção, com a ambientação muito bem explorada de maneira a inserir o público nas cenas de forma convincente. Capriche nas caixas de som.
SERVIÇO
O Beco do Pesadelo não é um filme para qualquer público, tem um ritmo irregular, muitos diálogos e, cá pra nós, uma duração – 2h31min – que poderia ser menor. Ainda assim, é um exemplar de primeira linha da obra cinematográfica de Del Toro, trazendo uma produção densa, que brilha em seu elenco e ambientação, mas que pode afastar algumas pessoas por seu teor pesado.
Além de melhor filme, O Beco do Pesadelo recebeu indicações em melhor figurino, melhor fotografia e melhor design de produção.
O filme passou rápido pelos cinemas brasileiros no final de janeiro, mas chega nesta quarta-feira, dia 16 de março, ao catálogo do Star Plus. Boa sessão!