Peço perdão a toda gente por minha passagem apressada e violenta!
Vocês me conhecem bem e sabem que normalmente sou serena e cristalina. Considero os lares ambientes sagrados e entro somente a convite de mãos que abrem torneiras.
Mas esta semana perdi o curso normal do meu destino: invadi casas, causei destruição, afoguei sonhos...
Perdão, eu só queria encontrar o mar!
Sou elemento essencial para a sobrevivência animal e vegetal. Sou fonte de vida, sacio sedes e banho corpos cansados. Sou ingrediente principal no cozimento de refeições e vital em inúmeras atividades humanas. Mas esta semana fui à sua casa sem ser convidada e matei animais de estimação, arrasei plantações, submergi corações...
Perdão, eu só queria encontrar o mar!
Caí do céu como benção e me tornei maldição. Provoquei choros imperceptíveis porque sou feita da mesma consistência das lágrimas...
Perdão, eu só queria encontrar o mar!
Percorri por pequenos córregos, regatos, riachos, desci montanhas e vales até desaguar na grande artéria do Rio Tubarão. Arrastei comigo árvores, animais, casas e muitas outras coisas que não sinto orgulho de confessar...
Perdão, eu só queria encontrar o mar!
Também arrastei comigo objetos estranhos que contribuíram para o agravamento da tragédia: garrafas, plásticos e uma variedade enorme de lixos que os seres humanos irresponsavelmente descartaram nas margens e nos leitos dos rios.
E todo esse lixo entupiu bueiros, impediu o meu fluxo normal e me fez desviar o caminho, obrigando-me a entrar em sua casa sem autorização.
Estou muito triste pela destruição que causei na cidade de Tubarão e região, mas desta responsabilidade eu humildemente peço absolvição...
Pois assim como você deseja seguir o seu caminho sem sofrer desvios forçados:
Eu só queria encontrar o mar!