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BLOGS E COLUNAS

Minha miserável vida de cão invisível

25/01/2020 16h22

Meu nome é... sei lá. Alguns seres humanos me chamam de "Jaguarão" ou "Guaipeca". Outros analisam minha aparência e chegam à conclusão de que a melhor opção é me apelidar de Pardinho. Eu moro junto com outros irmãos de raça (na verdade, sem raça definida) no centro de Tubarão.


Por que decidi fazer este relato? Simplesmente porque quero expor minha indignação com um triste fato que me chateou muito. Ontem, no final da tarde, apareceu por aqui um pit bull. Tipinho arrogante! Andava com o focinho em pé e cheirava a perfume de pet shop chique.


Imaginem um cão insuportável! Embora ele fosse uma mala sem alça, toda gente o tratou como personalidade. Ao vê-lo no centro da cidade, os motoristas pararam os automóveis, os pedestres se aglomeraram ao seu redor, e as câmeras de monitoramento foram todas direcionadas para ele. Eu estava bem pertinho do Brad Pit Bull canino, mas ninguém olhou pra mim, só tinham olhos pra ele. Uma mulher até me escorraçou pra se aproximar do cão superior. "Sai pra lá, seu vira-lata fedorento", disse ela. Um senhor com cara de aposentado me xingou de "purguento". Não entendi muito bem o português dele, mas acho que ele quis dizer que eu tenho pulgas. Grande novidade!


Sempre que sou admoestado, eu abaixo a orelha, desvio o olhar e obedeço. Assim, eu evito levar pelotadas na cabeça ou chutes no meu traseiro ossudo.


Não faltaram voluntários para adotar o Brad Pit Bull cheirosinho. Foi embora no banco da frente de um carrão. Sempre é assim, cão de raça não passa uma noite ao relento. 


Eu não o invejo. Na verdade, fico feliz por ele. Mas não abro pata do direito de pensar que é injusto que eu e centenas de outros cães continuemos esquecidos pelas ruas de Tubarão. Acho que isso deveria ser considerado crime de "Vira-latofobia"! É duro admitir, mas sei que o desprezo por nós está ligado ao fato de sermos considerados feios. Confesso que não entendo muito bem esta lógica humana, pois, se feiúra justificasse os abandonos, muitas pessoas estariam na mesma situação que eu.


Nada contra os cães nobres com pedigree, mas nós, os vira-latas, também merecemos atenção, merecemos deixar de ser invisíveis e, acima de tudo, merecemos um lar.


Posso garantir que seremos leais e amorosos!


Sem ressentimentos, deixo aqui meu desabafo... Au au! Bye bye!



MACIEL BROGNOLI
Crônicas e contos
Maciel Brognoli é guarda municipal de Tubarão, graduado em Administração Pública, especialista em Segurança Pública e Gestão de Trânsito e escritor. Ocupa a cadeira n° 27 da Academia Tubaronense de Letras (Acatul) e escreveu quatro livros.
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