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Quem vive, quem morre

26/03/2020 22h17

Não se sabe o que vem pela frente. Quantas mortes contaremos, nem o tamanho do estrago na economia e quantas empresas e empregos se perderão. Mas é certo que nada será como antes. Essa pandemia mudou tudo, e o que vem pela frente realmente é incerto, embora previsivelmente terrível. De certo, apenas o retorno gradual da economia a partir de segunda-feira (30), determinado pelo governador Carlos Moisés nesta quinta-feira (26).

 

O ideal seria persistir em quarentena por mais semanas, talvez meses, mas aí pode-se dizer, sem medo de errar, que mais gente morreria de fome do que dessa pandemia, especialmente num país tão desigual como o nosso, onde a maioria se vira como pode para pagar as contas, em trabalhos autônomos ou subempregos. E se trabalhando de sol a sol as contas não fecham, no final do mês, como fazer sem poder sair para trabalhar?


As previsões, no entanto, não são animadoras. As autoridades de saúde de Tubarão assinaram na quarta (25) um manifesto defendendo a manutenção da quarentena com argumentos muito convincentes – e assustadores. Na região, somos 370.000 habitantes. Se 80% contrair o vírus (296.000), com 10% (29.600) sintomáticos, 16% apresentarão sintomas graves (4.736), muitos dos quais precisando de UTI. Hoje, em Tubarão, há 50 leitos de UTI.


O tempo estimado na UTI para esses pacientes é entre 15 e 21 dias. Além disso, esses leitos já são usados para tratar outras doenças que também requerem hospitalização e cuidados intensivos. É fácil concluir que não será possível atender todos os que necessitarem de cuidados médicos, e também aqui, a exemplo do que ocorre na Itália hoje, os médicos teriam que decidir quem vive e quem morre.


Os números apresentados pelos responsáveis pela área da saúde em nossa região são baseados nos estudos que existem atualmente sobre o vírus, e que vão mudando diariamente. Mas se sabe que vivemos numa região com alto número de idosos, o principal público atingido, e que a temperatura vai baixar nos próximos meses, aumentando a incidência de doenças respiratórias.


Por fim, os médicos ressaltam que, apesar de nos outros países morrerem mais idosos, a falta de atendimento médico poderá mostrar um cenário diferente no Brasil, especialmente pela desigualdade social. E também porque há escassez de equipes de saúde treinadas para lidar com essa doença, falta de equipamentos de proteção individual, e a estimativa de que 20% dos casos ocorram entre profissionais da saúde, desfalcando ainda mais as equipes.


Resumindo, as autoridades de saúde de Tubarão defendem a manutenção da quarentena, e esta deveria ser analisada ao final de cada período. Concluem dizendo que o número de casos notificados está muito abaixo da realidade, pela ausência de testes diagnósticos, o que não revela a magnitude do problema. A interrupção abrupta do confinamento atual, sem que os sistemas de saúde estejam preparados, coloca em risco a vida de milhares de pessoas.


O manifesto é assinado pelos diretores dos hospitais Socimed, Nossa Senhora da Conceição, Pró-Vida, da Fundação Municipal de Saúde, da Unisul, Unimed, dentre outros profissionais, e foi antes do governador Moisés anunciar o fim gradual da quarentena. Extraoficialmente, um dos signatários afirmou que foi uma resposta ao discurso desastroso do presidente Bolsonaro na terça-feira (24). E concluiu dizendo que se respeita a decisão do governador, mas o momento é de muita, mas muita preocupação.



LÚCIO FLÁVIO
Lúcio Flávio de Oliveira
Diretor de Redação do Sul Agora. Lúcio Flávio de Oliveira é formado em Comunicação Social (Jornalismo) e Direito pela Unisul e tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV.
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