Quando o caos se instala, é muito fácil apontar o dedo para encontrar um culpado. Agora que novamente não temos mais leitos de UTI para quem tiver o azar de precisar de um respirador, podemos escolher quem quisermos culpar, de acordo com as convicções de cada um.
A culpa é das eleições, que não deviam ter sido realizadas. Dos jovens inconsequentes reunidos em baladas na Praia do Rosa e em festas em sítios mais afastados. Do pessoal que não usa máscara e se aglomera nas praias. Do tiozão sem noção que espalha fake news o dia inteiro pelo zap.
Do governo do Estado, que durante a pandemia toda não fez uma única divulgação na mídia alertando para os perigos das aglomerações. Do governador, que ainda dava o mau exemplo de participar de festa junina em hotel. Do ainda inexplicável desvio dos R$ 33 milhões dos respiradores.
Do Ministério da Saúde, que prefere deixar sete milhões de testes de PCR perderem a validade em um galpão em São Paulo a distribuir para estados e municípios. Enquanto isso, o trouxa do cidadão paga R$ 300 por esse teste. Do presidente, que diz que temos de deixar de ser maricas e enfrentar o vírus.
Da falta de planejamento e ações por parte do governo federal. De um lado, temos o gabinete do ódio disparando mensagens contra as máscaras, contra a China, contra as vacinas, contra a mídia e contra a Ciência. De outro lado, não há uma única campanha de conscientização veiculada na imprensa.
Como avisa o comitê de combate à covid, formado pelas autoridades médicas de Tubarão, em carta divulgada nesta terça-feira (24), não se trata de uma segunda onda. Ainda nem saímos da primeira. Não é o caso de encontrar culpados nesse momento. Trata-se de continuarmos sobrevivendo a tudo isso.