Logo após a posse, Jair Bolsonaro disse que precisaria desconstruir muita coisa no Brasil. Desfazer muita coisa, ressaltou. E desde então tem seguido à risca esse objetivo, seja na desconstrução de reputações de adversários políticos, na desconstrução da Ciência, na desconstrução do Congresso, do STF e da imprensa como pilares da democracia.
Com esse discurso de ódio, todo aquele que não compactua com suas ideias é comunista, desde o papa até o ex-ministro Sérgio Moro. A Terra é plana, o aquecimento global é invenção, e a imprensa tem de calar a boca e, no caso da Globo, ter cassada sua concessão. Isso serviu para agregar em torno dessas ideias perigosas um terço da população mais radical. Até agora.
Pois 2020 chegou como a hora de reconstruir tudo aquilo que foi desconstruído de 2019 para cá. A pandemia é, obviamente, a maior tragédia mundial desde a Segunda Guerra, mas mesmo nas tragédias sempre há espaço para o surgimento de belas ações de empatia, de solidariedade, de ajuda ao próximo - como temos visto, alíás, constantemente pela imprensa.
A pandemia realçou, por exemplo, a importância da Ciência. Contra os dados científicos, não há fake news sobre a cloroquina que se sustente. Também nessas horas trágicas é possível ver a importância do jornalismo responsável; sem ele sobra só a desinformação, que também mata. Quantos morreram por não se prevenirem, e acharem que era só uma gripezinha?
Mesmo a classe política tem salvado o Brasil. O governo queria dar só R$ 200 para a população nesses tempos de guerra. Foi o Congresso que aumentou esse valor para R$ 600. Pela quantidade enorme de gente que está recorrendo a essa ajuda, dá pra imaginar o caos que seria se os deputados tivessem aceitado pagar só o valor original proposto pelo governo.
Outro alvo da desconstrução bolsonarista, o STF, sob protestos e passeatas de Bolsonaro e seus seguidores, pedindo o seu fechamento, está prestando mais um grande serviço ao país, desta feita ao esclarecer ao Brasil, através de inquérito em andamento, quem está mentindo entre Bolsonaro e Moro – sim, ainda tem quem não saiba qual dos dois fala a verdade.
E o governador Moisés, que se elegeu surfando na onda Bolsonaro, repetindo o gesto das arminhas na mão e compartilhando o mesmo desprezo do ex-ídolo para com a imprensa? Também nosso governador prefere as confortáveis lives nas redes sociais, sem perguntas incômodas de jornalistas. Agora, parece explicado o porquê de não querer dar respostas.
Foi através do jornalismo investigativo do The Intercept que a sociedade ficou sabendo o que se passava nos bastidores do governo catarinense. É como diz o provérbio bíblico, apropriado por Bolsonaro: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” De fato, a verdade está vindo à tona. E nos libertará. Nem que seja pelo impeachment.