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BLOGS E COLUNAS

A pandemia e o pandemônio

24/05/2020 08h26

O país passou o final de semana discutindo o famoso vídeo do Bolsonaro e seus ministros. Encheu, eu sei, mas é ótimo que assim seja. Era muito pior quando a atenção nacional voltava-se apenas ao fogo no parquinho do Big Brother. Aos críticos do programa, respondia-se sempre que ele era apenas uma representação da nossa juventude, como se nossos jovens fossem todos barraqueiros, desses que costumam aparecer na casa mais vigiada do Brasil.

Constata-se agora que os barracos do Big Brother eram fichinha perto do nível da reunião ministerial conduzida pelo nosso ilustre presidente. Nos grupos de whatsapp de que participo ninguém pediu a minha opinião sobre o vídeo. Estou acostumado: nas redes sociais ninguém quer saber a opinião de ninguém – todos só querem falar (lacrar é o termo); ninguém quer ouvir o que o outro tem a dizer. E cada um segue em sua bolha, preso em suas convicções.

Então, farei o mesmo aqui. Não darei opinião sobre esse vídeo. Cada um já fez o seu próprio julgamento. Relato apenas os fatos, porque o que estamos vendo acontecer é a história se desenrolando à nossa frente. E mais importante do que a opinião de um ou de outro, nesse momento, é a simples descrição do que está acontecendo. Por isso o jornalismo é tão empolgante, porque contra os fatos não há argumentos. Basta jogar luz na escuridão.

O mundo atravessa a pior pandemia dos últimos 100 anos. No Brasil, será a pior da história. Nosso governo promove uma reunião ministerial no dia 22 de abril. Em duas horas de reunião quase não se falou na pandemia, num plano de combate, ou em algum estudo. O presidente, em seu estado bruto, diz, com palavrões obscenos, que não vai esperar que prejudiquem a família dele para trocar o ministro. Colérico, chama o governador de São Paulo de bosta e o do Rio, de estrume.

O ministro da Educação diz que, por ele, “botava os vagabundos do STF na cadeia”. E que odeia o termo “povos indígenas”. “Odeio esse termo. Odeio”, reforçou. Em outro momento, diz: “Odeio o partido comunista”. O ministro da Economia diz que o Brasil “tem que aguentar a China”. Propõe mandar um milhão de jovens para os quartéis, pagando R$ 200 a cada um, para construir estradas. E diz que tem que vender essa p... logo, em referência ao Banco do Brasil.

A ministra dos Direitos Humanos diz que vai pedir a prisão de governadores e prefeitos que estão permitindo a prisão de pessoas que desrespeitam a quarentena obrigatória. O ministro do Meio Ambiente quer “passar a boiada e mudar as regras” na legislação ambiental, enquanto a atenção da imprensa está voltada para a pandemia. Sugere que outros ministérios façam o mesmo, aproveitando esse “momento de tranquilidade”, referindo-se à mídia.

A pauta da reunião não é a pandemia. O presidente diz que quer a população armada, e que é fácil impor uma ditadura. E volta ao tema que lhe interessa e preocupa: que não pode ser surpreendido com notícias, e iria interferir nos ministérios, porque não recebe informações da PF, Forças Armadas e Abin, apenas do seu “sistema particular” de informações. E se exalta, olhando para Sérgio Moro: “Vou interferir e ponto final, pô!”. Esses são os fatos. Eles falam por si. A Justiça é cega, também será surda?



LÚCIO FLÁVIO
Lúcio Flávio de Oliveira
Diretor de Redação do Sul Agora. Lúcio Flávio de Oliveira é formado em Comunicação Social (Jornalismo) e Direito pela Unisul e tem MBA em Gestão Empresarial pela FGV.
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