Há muita gente boa dizendo isso, que a culpa da guerra comercial aberta por Trump contra o Brasil é do Lula. O pensamento é livre, cada um interpreta o mundo do seu jeito. Tem gente que culpa a Ucrânia até hoje pela invasão russa. Como tem aqueles que culpam as mulheres abusadas e não o estuprador. Quem mandou elas usarem roupas curtas? Ou Lula negociar com a China e a Rússia? Tá vendo? Só podia dar nisso.
Mas o pensamento é livre dos impostos do Trump (até onde sei), então podemos imaginar o que aconteceria se Bolsonaro ainda estivesse no poder. Nem precisamos de muito esforço, pois já vivemos num mundo (louco) em que Trump governava os Estados Unidos e Bolsonaro o Brasil. Isso aconteceu entre janeiro de 2019, quando Bolsonaro tomou posse, e janeiro de 2021, quando Trump cedeu, a muito custo, seu lugar a Joe Biden.
Os problemas do Brasil com Trump começaram um pouco antes, ainda com Michel Temer na presidência, quando, em março de 2018, os EUA impuseram uma taxa de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as de alumínio. Após muita negociação e com a falta de produtos no mercado americano, as regras foram flexibilizadas cinco meses depois – com limites de exportação 30% menores que a média anterior.
Em dezembro de 2019, já com Bolsonaro, Trump acusou o Brasil de desvalorizar o real para estimular a compra de produtos brasileiros e ameaçou reinstaurar as taxas sobre o aço e o alumínio. Passaram-se alguns dias de muita negociação novamente, e Trump não cumpriu a ameaça. Nem foi preciso mostrar os vídeos de Bolsonaro batendo continência para a bandeira norte-americana. Trump não leva a ideologia em conta.
Tanto que, em agosto de 2020, Trump restringiu ainda mais as cotas de exportação dos produtos brasileiros, reduzindo-as em cerca de 80%. Em outubro daquele ano, Trump elevou as tarifas sobre as chapas de alumínio importadas do Brasil de 15% para 145%, alegando que os brasileiros estavam vendendo produtos abaixo do custo, prejudicando a concorrência americana – ato revogado por Biden em julho de 2022.
Usar as taxações e fazer ameaças para obter vantagens pessoais ou para setores de amigos e aliados é uma estratégia antiga de Donald Trump, que ele já usou inclusive contra Bolsonaro, Temer e agora contra Lula e o mundo todo, até contra o vizinho e parceiro histórico Canadá, que ele ainda sonha em anexar. Dizer que a culpa é do Lula, do Brics, ou de qualquer um que não seja o próprio Trump, é desconhecer a história.
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