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BLOGS E COLUNAS

Um calor que gela os ossos

23/05/2020 08h20

Prepare-se: a temperatura política deve subir a tal ponto nesta fria semana de outono que, mais que o clima, fará congelar as expectativas de que a crise termine pacificamente. Quem leu a transcrição do vídeo, preparada pela Advocacia Geral da União, pode imaginar o quanto é grotesco – e agora pode ser exibido, com exceção das menções a outros países. A linguagem é de cavalariça. As ideias não são ruins – nem boas, não existem. Existe xingação, inexiste qualquer pensamento sobre nosso grande inimigo, o coronavírus. E, fora da reunião, as ideias foram colocar um general na Saúde para hidroxicloroquinar o país. As associações médicas rejeitam o uso maciço do medicamento, pelos riscos de vida que oferece.


Só? Não: o PT e os partidos que sempre o apoiaram pediram ao STF o exame do celular do presidente. Não deve dar em nada: o ministro Celso de Mello enviou o pedido ao procurador-geral Augusto Aras, que dificilmente o aceitará. Mas o general Augusto Heleno já se manifestou, e disse, em outras palavras, que presidente é presidente, e um pedido “inconcebível” como este “poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Pois é: Bill Clinton precisou depor sobre um caso ruim e os EUA ficaram estáveis. O presidente, lá, não está acima da Constituição nem das ordens judiciais.


A Paraná Pesquisas informa que, para 35% do povo, Bolsonaro é culpado pelas mais de 20 mil mortes por Covid 19. A China é culpada para 4%.


E daí?


Bolsonaro fez piada: “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma tubaína”. Lula também foi mal: “Ainda bem que a Natureza criou esse monstro”. Queria dizer que é preciso que o Estado seja forte para agir. Nos dois extremos da política, ninguém tinha algo melhor para dizer?


Os homens do presidente 1


O general da Saúde se cercou de militares. Um é o major Angelo Martins Denicoli, novo diretor do Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS, muito ativo em redes sociais. Saúde? Defende a cloroquina, e só.


1 – Em 8 de abril, disse que a FDA (Federal Drugs Administration), dos Estados Unidos, tinha aprovado a hidroxicloroquina, e que a Novartis, uma das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, iria doar 130 milhões de doses. Tudo falso: o site da Novartis informa que as pesquisas da empresa são favoráveis à hidroxicloroquina e que, com base nelas, pediria à FDA e à Comissão Europeia de Medicamentos que a aprovassem. Nesse caso, iria doar 120 milhões de doses. A notícia foi copiada de um site bolsonarista (que publicou o número errado). Era fácil apurar a verdade: bastaria procurar em www.novartis.com. Informou o Ministério da Saúde que o major não sabia que a notícia era falsa e que, quando soube, imediatamente a apagou. Não era bem assim: até 19 de maio, quando a Folha o procurou, estava no ar.


2 – Disse Denicoli, sobre o Supremo, que Ricardo Lewandowski é amigo de traficantes, Celso de Mello apoia pedófilos, Rosa Weber é a garantia dos estupradores, Marco Aurélio dos assassinos e que corrupto só precisa ligar para Gilmar Mendes. Havia fotos de cada ministro, com nome e legenda com a informação falsa: “Votou a favor de corruptos (ou assassinos, ou pedófilos, ou estupradores) nunca serem presos”. Denicoli cuida hoje de Saúde.


Os homens do presidente 2


Responda depressa: por que, entre os integrantes da equipe de apoio do general que está na Saúde, foi contratado um advogado criminalista?


Lembrando o tempo petista


Um caso explosivo: o bilionário Beny Steinmetz, empresário do setor de diamantes, briga nos EUA para não pagar à Vale a multa de US$ 2 bilhões a que foi condenado pela Corte Arbitral Internacional de Londres. A Vale diz ter sido enganada por Steinmetz, seu sócio no projeto da mina de Simandou, na Guiné, uma das maiores do mundo. Steinmetz teria informado à Vale que a concessão da mina tinha sido obtida legalmente. Steinmetz não é uma pessoa comum: já foi condenado por corrupção pela Justiça de Israel, Suíça, EUA e Guiné. E continua lutando: seus detetives gravaram conversas com diretores da Vale da época do presidente Lula, e ele as apresentou no dia 19 à Justiça de Nova York. Um áudio é atribuído ao ex-diretor de Minério de Ferro da Vale, José Carlos Martins, que diz que o Conselho de Administração da empresa tinha conhecimento de tudo, mas concordou em correr o risco pela importância estratégica da mina. Na época, havia também o interesse do Governo Lula de estreitar laços com a África (nos processos do Mensalão, revela-se que o interesse era também dos governantes).


Dinheiro não tem cheiro


Atribui-se a Martins a recomendação de fechar o acordo “de nariz fechado pois cheira mal, para não deixar o negócio com os competidores”. Roger Agnelli, presidente da Vale, teria dito “tem algo errado”. Mas, no final, o Conselho decidiu: “OK, vamos nessa. Não digam mais nada. Vamos fechar”.



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